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O melhor Pai do Mundo

Ser Pai é uma experiência que merece ser partilhada. Este espaço é dedicado a todos os Pais que receberam dos seus filhos o título de "O melhor Pai do Mundo".

Pai, quero estar contigo todos os dias

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Esta história é dedicada a todos os Pais e Mães que por razões profissionais não podem estar todos os dias com os seus filhos.

 
Segunda-feira, 4:30 da manhã, levanto-me da cama em silêncio. Em casa estão todos a dormir e eu vou preparar-me para ir trabalhar. Tenho voo para Lisboa às 6:30 para começar uma nova semana de trabalho. Espera-me mais uma (muito) longa semana longe de quem amo mais.
 

A decisão de ir trabalhar para longe de casa foi talvez das mais difíceis que tomei. Ponderei todos os cenários, refleti sobre os prós e os contras e pesei o facto de ter de estar 5 dias afastado do meu filho e da sua Mãe. 

 
Mudar de emprego seria um passo em frente na minha carreira e isso implicava sacrifício pessoal. Resolvi arriscar, ganhei coragem e pensei em semear para poder colher mais tarde. Sim, coloquei a família em segundo plano, mas tive-a sempre ao meu lado a apoiar cada passo que estava a dar.
 
5:00 da manhã. Mesmo antes de sair de casa, reservo uns minutos junto da cama do meu filho. Dorme de forma imperturbável, não há nada que o acorde, mas mesmo assim, não deixo de lhe sussurrar ao ouvido: “O Pai volta depressa. Porta-te bem e ajuda a Mãe”. Na garganta forma-se uma espécie de nó apertado. O coração bate depressa e pela cabeça só me passa a pergunta “Porquê?”.
 
6:30 da manhã. Na fila do aeroporto estavam caras conhecidas, nunca tinha falado com estas pessoas, mas via-as todas as segundas-feiras pela manhã, quase sempre com a mesma cara ensonada e de rosto fechado, certamente a pensar no que estavam a deixar para trás. Ali de certeza que estavam Pais e Mães que iriam estar longe dos filhos durante alguns dias.
 
O avião levanta voo. Para trás deixo um fim de semana demasiado curto para poder voltar a encher o meu coração de amor. Estes dois dias eram vividos demasiadamente depressa e com pressa, mas o que eu queria é que passassem muito devagar. O sábado era tranquilo, mas o domingo já começava a pensar que  o fim de semana estava a terminar. Todos sentimos o mesmo e a criança ainda mais. Parecia que queria brincar tudo ao mesmo tempo, todas as brincadeiras que tinha pensado fazer durante a semana teriam de acontecer naqueles dois curtos dias.
 
9:00 da manhã. Chegado ao escritório uma nova semana começa ali. Era hora de me fechar no trabalho e tentar que a distância não afetasse o meu desempenho. Hora a hora, minuto a minuto só imaginava como estavam os meus a algumas centenas de quilómetros de distância.
 
19:00, o dia de trabalho tinha chegado ao fim, mas não iria, como era normal, recarregar baterias, não iria jogar à bola em casa mesmo estando exausto, não iria ouvir ao vivo e a cores as histórias da escola, não iria abraçar o meu filho com tanta força até ele me dizer “Pára, Pai”.
 
Depois de jantar vinha o momento alto do dia, a nossa conversa via Skype. Nunca um ecrã foi tão importante na minha vida. Passava a maioria do tempo calado, só a ouvir e a ver o que me mostravam do outro lado. Era tão pouco, mas significava muito.
 
Os dias passavam e a rotina mantinha-se. A sexta-feira aproximava-se e mais um fim de semana estava à porta. Era altura de regressar a casa. A chegada ao aeroporto era uma emoção. O coração a bater, o desejo daquele tal abraço apertado e de um beijo sonoro. A porta das chegadas abria e eu ouvia uma voz no meio de umas centenas de pessoas: “PAI”. E lá vinha ele a correr na sua forma desengonçada e a abrir os braços para me abraçar.
 
Há quem viva desta forma anos, que acaba por ser rotina. Não quer dizer que seja mais fácil, mas o nosso músculo principal é que se habitua às diferenças de velocidade e acaba por ficar mais treinado. Eu vivi durante 6 meses que pareceram uns bons pares de anos. São dias muito intensos em que me faltava uma parte essencial da minha vida. Profissionalmente a experiência foi muito boa. Pessoalmente a experiência foi muito dura, exigente em todos os aspetos, exigente para todos. Ajudou-nos a amadurecer ainda mais rápido e a viver as emoções com mais intensidade.
 
Hoje, valorizo ainda mais cada momento. Voltei à minha cidade para trabalhar, voltei a sentir a azáfama das manhãs para sair de casa, voltei a poder recarregar baterias e a ouvir todas as histórias…olhos nos olhos.
 
Todos com quem me cruzei naquele aeroporto ficaram na minha memória. A vida tem estes caminhos que às vezes nos afastam de quem amamos. Eles estão ali a cada momento, mas o toque de um abraço continua a ser incomparável.
 
O Pai

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