Pai, quando fores velhinho vou tratar de ti
Não me considero um velho. Por acaso tenho uma forma bem particular de olhar para a idade, acho que está ligada ao estado de espirito. Há dias que me sinto com 60 anos ou mais, outros na casa dos 30 e ainda aqueles que é como se tivesse menos de 20 anos.
Detesto ser catalogado pela idade. Há dias fui a uma consulta de oftalmologia e o médico disse-me que a minha visão estava bem, dentro do possível, mas que daqui a 2 anos iria começar a piorar. Eu perguntei-lhe se isso é certo, se em 2 anos haverá alguma mudança que originará um agravamento na visão. Ele disse-me que a partir de certa idade isso normalmente acontece. Terminei o assunto de uma forma muito taxativa: “Sr. Dr. eu trato-me bem por isso vou enganar a idade”.
Claro que temos de acreditar na ciência e na sua capacidade preditiva, mas não devemos viver obcecados com isso, sob pena de os anos passarem por nós sem nos apercebermos.
É um facto que a população está a envelhecer e que a taxa de natalidade teima em não subir. Eu fui Pai com 30 anos, quer dizer que aos 60 o meu filho terá 30. Como é que eu vou olhar para os meus 60 e para os 30 do meu filho? E qual vai ser a sua perspetiva?
“Pai, a partir de que idade é que as pessoas são velhinhas?”, perguntou-me um dia o meu filho. Respondi que as pessoas ficam velhas quando se sentem velhas. Claro que não percebeu, estava à espera de um número, que é mais ou menos o que toda a gente espera, ou seja, parece que existem patamares: dos X aos X és adulto depois dos X aos X és idoso. Para mim vai continuar a ser X porque depende de cada pessoa.
Num daqueles diagnósticos que fazemos no ginásio sobre os índices do nosso corpo, como o índice de massa muscular ou de massa gorda, existia um coeficiente que indicava qual era a idade biológica da pessoa. Por trás dessa fórmula existem decerto estudos que, mais uma vez, catalogam os factores. Nem tentei perceber como era calculada a idade biológica, fixei-me apenas no valor.
A fórmula dizia que eu tenho menos 10 anos do que a idade que o meu cartão de cidadão apresenta!! Como é que acham que eu fiquei? Saltei de alegria? Abracei-me à primeira pessoa que me apareceu à frente? Tirei uma foto ao ticket e partilhei com o mundo?
Nada disso, guardei o papelito que me entregaram e mais tarde dei-o ao meu filho. “Pai, afinal és bem mais novo do que eu pensava!”, disse-me antes de fazer as mil e uma perguntas sobre como era aquilo possível.
Respondi-lhe quase da mesma maneira que descrevi mais em acima nesta história: “A idade de cada um depende da forma como nos sentimos”. A criança ficou a olhar para mim a processar esta filosofia que o Pai lhe tinha transmitido. Processou e processou…
Depois de tanta reflexão, lá saiu a preocupação “Pai, não quero que fiques velhinho”. Aproveitei para explicar que cada pessoa tem de se tratar bem, ter uma vida equilibrada e procurar ser feliz em todos os aspetos da vida. “Pai, fica prometido, quando fores velhinho eu vou tratar de ti”. Já posso envelhecer à vontade.
O Pai