Pai, não tem de ficar tudo nas tuas costas
Quando é que eu senti a maior responsabilidade? Maior do que um novo emprego, um novo cargo, um projeto pessoal... qualquer coisa. Eu senti a maior responsabilidade quando fui Pai.
Perceber que um bebé depende a 100% de nós Pais pode até ser algo assustador e muitas vezes faz com que nos sintamos presos no pensamento, no que fazemos e até naquilo que queremos para o futuro.
Muitos Pais confidenciam comigo que depois de serem Pais sentiram que tinham de dar mais no trabalho, mostrar ainda mais compromisso, porque não podem perder aquele emprego que é fundamental para as contas. Este "peso nas costas" faz, muitas vezes, com que os Pais fiquem até mais tarde a trabalhar, aceitem ainda mais responsabilidades e com isso demonstram o tal compromisso acrescido que lhes garante mais segurança. Eu senti isto mesmo e procurei a tal segurança. O que tive em troca da empresa onde trabalhava? Nada. O que é que perdi? Tempo com o meu filho. Valeu a pena? Não. O que fiz de diferente no segundo filho? Estabeleci para comigo que a prioridade é a família e fiz saber disso mesmo a todas as pessoas que trabalham comigo. Disse-lhes também que iria dar tudo pela empresa, sempre com o máximo de compromisso, mas não iria dar mais tempo para o demonstrar. Provavelmente trabalho mais em 6h do que em 8h, mas fico dono do meu tempo e faço o que quero com ele, neste caso dou-o à minha família.
Outro peso de responsabilidade tem a ver com a disponibilidade física em casa. Os primeiros meses de um bebé são muito exigentes à nível físico e leva muitas vezes os Pais à exaustão. No primeiro filho cheguei ao limite, fui parar à cama completamente exausto. Porquê? Porque não pedi ajuda e achei que podia aguentar todo o peso. Pensei que não era possível ser humano, tinha de me superar. O que ganhei com isso? Uns dias de cama completamente fora de jogo. O que fiz diferente no segundo filho? Fui mais transparente com a Mãe dizendo-lhe como estava e até se precisava de descansar. Fizemos (e fazemos) uma equipa perfeita, porque comunicamos, porque percebemos as fraquezas de cada um e complementamo-nos. Sinto que a dureza física está lá, mas não estou sozinho, ou melhor, não sinto que sou o último bastião da família que tem de aguentar tudo.
Eu acredito em heróis, até acredito que todos os Pais e Mães o são, mas querem sempre mais e querem chegar a super-heróis, capazes de voar e aguentar o peso no mundo nas suas costas. O que é que acontece a estes super-heróis? Normalmente perdem estas batalhas e reduzem-se à sua existência. Então mais vale aceitarmos o que somos, assegurar que toda a gente à nossa volta sabe como somos e viver a vida dentro das nossas responsabilidades, sem mais nem menos.
O Pai