Pai, não gosto de comparações
Parece que às vezes existe uma tabela que classifica as pessoas e permite comparar vários aspetos das suas vidas. Já não basta a sociedade nos impor tanta coisa e nós ainda temos de perder tempo a comparar-nos com A ou com B? Recordo-me na infância de viver constantemente em comparação com um primo. Ele é pouco mais velho do que eu e fomos educados com muita proximidade. Eu era magrinho, mas ele era mais forte. Eu ainda não tinha dentes e ele já tinha uns 4 ou 5. Eu tirava boas notas e ele mais ou menos. O que é que retirámos daquelas comparações? Nada.
Neste meu caso de infância, lembro-me que os meus Pais pouca importância davam a estas conversas. Obviamente que se questionavam “O nosso menino ainda não anda e o primo já, será que há algum problema?”. Felizmente eram dúvidas passageiras, nada que os incomodasse por demasiado tempo.
Hoje em dia, o flagelo das comparações ganha todo um novo contexto e porquê? Porque as redes sociais vieram abrir ainda mais o âmbito. Não é preciso um grande esforço para encontrar autênticos “Big Brother” de celebridades e afins a darem a conhecer ao Mundo as principais habilidades dos seus rebentos. “Olha a filha daquela atriz da novela já tem dentes” ou “Que alto que está o rapaz filho daquele apresentador de televisão”.
Espreitar as vidas dos outros e fazer as tais comparações está nos genes da maioria dos seres humanos, mas a diferença reside na importância que cada um de nós dá ao assunto. Talvez por ter vivido anos a fio com aquele episódio que escrevi no início desta história, posso dizer com total garantia de confiança e sinceridade que não ligo nenhuma a isso. Sou completamente insensível.
Para crescerem de forma descomplexada, as nossas crianças não precisam de serem colocadas em tabelas de comparação. Cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento e, acima de tudo, a sua personalidade que a deve construir por ela própria, influenciada por muito fatores, mas não em função de alguém.
Eu sei que quem concorda comigo não tem pretensões de mudar uma sociedade inteira que adora espreitar e comentar quem passa. Estamos carregados de exemplos que não são só de Pais e crianças. Se o tempo e a energia que estas pessoas despendem fossem aproveitados de outra forma mais interessante, de certeza que seriamos um bocadinho melhores.
Claro que em muitos aspetos da nossa vida nós somos colocados nas tais tabelas. Seja na saúde ou na escola, é quase impossível fugirmos das classificações, mas como referi, tudo depende do que isso vale e o que influencia os nossos comportamentos a seguir. Se o meu filho ficou em segundo lugar numa prova, não vou incentivá-lo a fazer melhor em função do miúdo que ganhou, vou dizer-lhe que está no bom caminho e que com um pouco mais de esforço e até de sorte vai lutar para melhorar na próxima oportunidade. Ele é o centro do incentivo e da motivação, não o miúdo que ganhou.
Esta história é uma espécie de manifesto, para Pais e não só: observem, comentem e comparem, mas não façam disso o vosso propósito. Lutem pelas conquistas com personalidade própria, porque, está provado, somos peças únicas.
O Pai