Pai, hoje fico sozinho em casa
No domingo passado tivemos finalmente algum tempo livre para não fazermos nada. Não tínhamos festas de aniversário, o jogo de futebol tinha sido no sábado, não nos apetecia ir passear. Um dia perfeito para não fazermos nada, contudo tínhamos de ir fazer umas pequenas compras para o almoço.
Como é habitual, a nossa hora de acordar é relativamente cedo. Por volta das 9:00 já estávamos todos bem acordados e a preparar-nos para sair, mas nem todos queriam…”Pai, não me apetece sair de casa para ir às compras”. O mais pequeno estava cansado. Têm sido semanas muito exigentes e embora ele seja uma fonte (quase) inesgotável de energia, naquele momento as baterias estavam em baixo.
Começamos logo a pensar como iríamos fazer. Vou eu ou vai a Mãe e assim o miúdo não fica sozinho em casa, mas a Mãe é que sabia o que comprar e o Pai era necessário para ajudar a trazer as compras. Tínhamos mesmo de ir os dois, mas e o miúdo?
“Vamos pedir a um dos avós para vir para cá”, adiantou a Mãe. Era uma hipótese, mas normalmente os avós gostam de ir dar um passeio e se lhes pedíssemos algo, não hesitariam em adiar tudo e vir estar com o neto.
Até que me lembrei de fazer uma experiência. Fui para o quarto, enquanto que a Mãe e o menino estavam na sala e fiz uma chamada de vídeo pelo WhatsApp. “Pai, estás a ligar para a Mãe?”, ouvi uma vozinha do outro lado da casa. “Sim, atende para fazermos uma experiência”, disse eu. Lá estabelecemos a ligação em vídeo e a Mãe percebeu logo a minha experiência.
Lembrei-me de quando era bebé, nós tínhamos daqueles aparelhos que detetam os movimentos e alertam os Pais. O nosso não tinha câmara, mas agora é frequente encontrar esses aparelhos que transmitem em vídeo os movimentos do bebé. E porque não fazermos uma vídeo chamada e ficarmos a ver o miúdo?
Era uma ideia muito tecnológica para a Mãe. “E se ele faz asneiras, não temos tempo de reagir?”, verdade, mas mesmo se estivermos muito perto é quase impossível de reagir às asneiras. “Vamos lá, só demoramos 1 hora no máximo”. A Mãe cedeu e lá fomos.
O miúdo achou aquilo tudo uma grande ideia. Ia estar a ver os Pais nas compras, mas iria continuar sentado no sofá…ou não. Claro que eu e a Mãe lhe passamos os 10 mandamentos para alguém que fica em casa sozinho. “Não ligues se tocarem à porta, não atendas o telefone, não faças asneiras, não saias da sala para te podermos ver…” Disse 10 mas são basicamente estes repetidos umas 3 vezes.
A viagem até ao supermercado fez-se sem sobressaltos. A Mãe só dizia “Mexe um braço para eu ver que a ligação ainda está a funcionar” e o miúdo lá mexia o braço! A certa altura, já no supermercado, o mais pequeno saiu do ecrã. Pânico! Começamos a chamá-lo e nada. A Mãe largou o carrinho e já se preparava para vir embora, eu mais calmo (ou talvez não) continuava à espera.
“Olá Mãe, olá Pai, cá estou eu outra vez”, o miúdo voltava ao ecrã. Tinha ido à casa de banho.
Chegamos a casa e a vídeochamada do WhatsApp marcava 53 minutos de ligação sem interrupções. Tinha corrido tudo bem. O miúdo é tranquilo e seguiu todas as indicações. “Passou rápido”, disse ele. Para nós Pais foi muito mais de 50 minutos, mas a experiência foi interessante e talvez seja para repetir mas sem vídeochamada. As crianças precisam de votos de confiança para sentirem que estão a crescer e a ficar mais responsáveis.
Reconheço que talvez sejamos demasiado preocupados. Noutros tempos, a minha Mãe deixava-me sozinho em casa para ir às compras. Sozinho, sozinho não ficava, porque a minha Mãe pedia sempre sempre à vizinha do lado para “pôr os olhinhos”. Esta expressão e a vizinha hoje foram substituídas pela tecnologia!
O Pai