Pai, fica connosco não vás trabalhar
Esta semana regressei ao trabalho. Depois de 3 semanas de licença e mais uns dias de férias, volto à vida normal. Foi como se vivesse numa espécie de bolha temporal que não queria que chegasse ao final. Não houve um segundo deste tempo em que tivesse pensado que iria acabar, antes pelo contrário, vivi um dia de cada vez, a desfrutar de cada minuto.
No dia do regresso ao trabalho, acordei antes de toda a gente. O mais velho ainda não tinha Escola, por isso não tinha de se levantar cedo. Preparei-me em silêncio absoluto. Num quarto a meia luz, fiquei uns minutos parado a contemplar a bebé. Dormia que nem um anjo, sossegada, nada a perturbaria, nem mesmo saber que o Pai não iria passar o dia ali por perto, tal como tinha acontecido desde o dia em que nasceu.
Já pronto para sair de casa, voltei aos quartos para deixar um beijo a cada um. Comecei pela Mãe, que meia acordada me deu coragem para enfrentar este momento. Aproximei-me da mais pequena e agarrei a sua mão como que a transmitir-lhe que o Pai continua ali a protegê-la. Finalmente entrei no quarto do mais velho, abracei-o aos lençóis e sussurrei-lhe “Cuida bem das meninas”.
E lá saí de casa, com o coração em aperto por deixar a minha vida ali.
Não consigo imaginar o tempo em que o Pai nem tinha direito a ficar em casa após o nascimento de um filho. Sim, é verdade, já foi assim. Quanto muito o Pai tinha direito ao dia do nascimento, para pelo menos ir ver o bebé. Felizmente a sociedade apercebeu-se que os homens também fazem parte da educação dos filhos. A sociedade quer, mas o Pai também tem de querer.
A última década marcou uma viragem nos direitos parentais. Portugal aproximou-se daquilo que é praticado em países ditos mais desenvolvidos e aprovou leis que permitem aos Pais estarem mais tempo junto dos seus filhos recém-nascidos. Mas esta evolução não caiu bem em todos os quadrantes. Quando falamos no meio do trabalho, os gestores do tempo da "outra senhora” não gostam de ver os seus funcionários (não lhes chamam colaboradores) com “férias” fora de tempo.
“No dia em que o meu filho nasceu eu ainda vim trabalhar”, dizia orgulhosamente um desses gestores. “O que é que eu estava a fazer em casa, a Mãe estava lá”, mais uma pérola desta espécie em vias de extinção.
Se quando fui Pai pela primeira vez me custava compreender este tipo de progenitores, hoje é para mim impensável admitir que ainda existem. Mas existem…
Aquele dia do regresso teve horas infinitas. Demorou muito mais que oito horas, era como se um relógio estivesse na sala a bater cada segundo e a obrigar-me a contá-los. O meu corpo e mente foi trabalhar naquele dia. Fui o profissional que sempre me habituei a ser. Mas naquele dia deixei o coração em casa.
O Pai