Pai, eu só quero tirar boas notas
De regresso às aulas após mais umas férias. São momentos preciosos de descanso que as crianças aproveitam para descansar, recarregar baterias e deixarem de pensar nas aulas. As férias é para isso mesmo.
Durante as férias recebemos as notas do mais pequeno e uns comentários sobre como está a evoluir. Só posso dizer que, mais uma vez, afoguei-me em baba de Pai orgulhoso. O miúdo é impecável e mais do que isso é exigente com ele próprio.
Não gosto muito desta auto exigência, especialmente se se tornar obsessiva. Até agora não, mas estamos muito atentos. Ele consegue uma nota alta e diz que ainda consegue melhor, nós dizemos que não tem de se preocupar com isso, apenas com o facto de ter de aprender bem as matérias e, acima de tudo, gostar daquilo que faz. Pelos vistos o patamar dos Pais está abaixo do dele próprio.
Considero que um dos principais desafios de um ser humano é saber lidar com a frustração. Saber enfrentar a frustração como um desafio, uma reflexão interior e até uma forma de crescer, quer do ponto de vista pessoal como do ponto de vista profissional.
Uma criança é exposta à frustração desde os primeiros minutos de vida. Porque tem fome e não tem logo ali o que pretende ou porque tem chichi na fralda e não está confortável. Com o passar da idade as frustrações alargam o seu âmbito e são cada vez mais desafiantes.
A face visível em tenra idade de “luta” contra a frustração é o choro, mas também a birra. Nós Pais, imbuídos no espírito de felicidade plena tentamos estancar aquela dor e acelerar a tal “luta”. Ora, isto não lhes dá armas para as batalhas seguintes. Não acho que estejamos a fazer mal, devemos é abrir caminho para que as crianças entendam, passo a passo (pequenos passos claro!), a viver num mundo em que nem tudo é feito à sua medida e que nem todos os seus desejos são realizados.
A Escola para os miúdos é um desafio constante. Para além de estarem a absorver gigabytes de informação nova e interessante, têm de lidar com a pressão de serem avaliados na sua capacidade de aprendizagem. Não somos todos iguais, isso já sabemos. A nossa capacidade de aprendizagem varia até com o estado do tempo e o nosso grau de exigência também.
“Pai, não quero cometer erros nos testes, quero ter tudo certo”, o lado perfecionista herdado do Pai a funcionar. Revejo-me naquele comportamento, ainda hoje me exijo assim, mas quero demonstrar ao meu filho que nem sempre é a melhor opção. Como é que o faço? Digo-lhe que o Pai e a Mãe não lhe exigem boas notas, que esteja tranquilo e que se errar de certeza que a Professora (e os Pais) vai explicar-lhe ainda melhor.
Isto é que eu digo, mas ele também vê o Pai chateado quando não consegue que algo fique perfeito. “Pai, está bem assim”, diz-me ele. Ou seja, o conselho volta a mim. Não o posso forçar a ser diferente, só lhe posso aconselhar a tentar encontrar o equilíbrio. Até eu ando à procura desse equilíbrio. Quem não?
O Pai