Pai, eu ouço o que tu me dizes
Quantas vezes ficou com a sensação de que os seus filhos não ouvem o que lhes diz? Quantas vezes ficou a pensar na expressão “Entrou por um ouvido e saiu pelo outro”? Muitas, imensas, demais?
À medida que o meu filho vai crescendo, vejo a sua personalidade a evoluir e sobretudo a sua vontade própria. O nosso papel como Pais e educadores deve ser o de acompanhar o mais próximo possível esta evolução e corrigir o caminho sempre que necessário, isto implica, por vezes, de termos conversas mais profundas e nem tanto chamadas de atenção pontuais.
Há dias, contou-me um episódio que se passou na Escola. Descreveu com muito detalhe o que aconteceu, o que ficou a pensar no momento, como agiu e o que aprendeu com a situação. Fiquei admirado, normalmente não conta estas coisas em casa. Já estamos mais ou menos habituados a lidar com este comportamento. Já sabemos que o que se passa na Escola, resolve-se ali.
Naquele momento, ouvi tudo com especial atenção. Fiquei com a sensação que estava a partilhar o que tinha acontecido porque precisava de saber se agiu bem ou mal perante a situação.
A situação aconteceu numa troca de opiniões entre amigos. Cada criança tinha um ponto de vista e estavam a discutir. Como qualquer criança com 8 anos é difícil de encaixar ideias que sejam diferentes das suas, julgo até que isto tende a piorar com a entrada na adolescência… mas ainda faltam uns aninhos.
Na nossa conversa, o problema veio quando eu lhe disse que não estava de acordo com a sua opinião. Mostrei-lhe o meu ponto de vista e só ouvia “Mas Pai…”. Estivemos perto de 30 minutos a falar. A sua frustração estava em crescendo e eu sentia que já nem sequer estava a ouvir o que eu estava a tentar explicar.
A conversa acabou comigo a dizer “Vá lá, pensa no que te estou a dizer e quando surgir uma situação do género vais lembrar-te do que falamos”. Saiu da minha beira de rosto fechado e a pensar “Este meu Pai, tem a mania que sabe tudo”. Do meu lado eu pensava “Ui, que este menino pensa que já sabe tudo”. Curiosa esta perspetiva, nós Pais a querer orientar e os filhos a achar que já sabem o caminho.
O bom destas conversas com as crianças é que não há ressentimentos. Passados uns minutos, já estávamos a brincar como se nada tivesse acontecido. Antes fosse assim no mundo dos adultos.
Passados uns dias, de manhã, no caminho entre o carro e a entrada na Escola (que normalmente é feito em silêncio profundo dada sonolência existente entre Pai e filho), a criança vira-se para mim e diz-me “Pai, ontem na sala de aula tive de mudar a minha opinião, achava que estava certo, mas os meus amigos explicaram-me que não”. Chegamos mesmo à entrada da Escola onde tem um banco de madeira, sentei-me para me colocar olhos nos olhos e pedi-lhe para explicar a situação.
“Pai, não estamos sempre certos, estamos sempre a aprender”, ouvi eu. “No outro dia não concordaste comigo e eu fiquei chateado, mas não temos de ter sempre a razão do nosso lado”.
Afinal qualquer coisa tinha ficado naquela cabecinha. Uma pequena semente plantada pelo Pai tinha acabado de dar frutos. Naquele momento veio-me à cabeça um “Eu bem te disse”, seria o mais expontâneo, mas colocaria o Pai como o “sabedor de tudo”. Disse-lhe apenas “É bom conseguirmos ouvir os outros, temos muito a aprender, mas também a ensinar…”
Para as crianças não há tempo para contemplações, para ouvir sermões ou frases feitas. Temos de ser muito concretos e acreditar que aquilo que dizemos acaba por ficar nas suas cabeças, mesmo que seja por pouco tempo e mesmo que tenha de ser dito várias vezes.
O Pai