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O melhor Pai do Mundo

Ser Pai é uma experiência que merece ser partilhada. Este espaço é dedicado a todos os Pais que receberam dos seus filhos o título de "O melhor Pai do Mundo".

Pai, deixa-me ganhar ao Monopólio

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 O lendário jogo Monopólio entrou cá em casa. Desde o Natal que não paramos de jogar. Tem duas coisas que são muito apreciadas pela criança cá de casa: é um jogo e tem de fazer contas. A parte das contas até é saudável. Obriga-o a pensar, fazer trocos, gerir o dinheiro, ter uma estratégia e até, de certa forma, negociar.

A parte do jogo é que é mais difícil de gerir. Quem é que gosta de perder? Como se diz, nem a feijões. Ser competitivo tem as suas vantagens, mas tem um lado que os Pais, normalmente, não gostam muito: o não saber perder.

As histórias que mais ouço da minha infância têm a ver com este sentimento. Eu sempre lidei muito mal com a derrota e com a frustração em geral. Nada de mal, mas quando isto implica alterações de comportamento, aí sim é de preocupar. Eu devo ter chorado litros de lágrimas, devo ter feito chegar aos limites a paciência dos meus Pais, dos meus Avós, dos meus professores, dos meus amigos, etc.

A esta distância, admitindo que a vida me obrigou a encarar melhor a derrota, não consigo avaliar o papel dos meus Pais perante os meus comportamentos. Lembro-me que os meus Pais faziam um esforço por não facilitar o jogo para que eu o ganhasse, mas também me lembro que com os meus Avós a minha vitória estava garantida. Admito que ainda hoje sinto resquícios deste traço de personalidade. Continuo a não gostar de perder, a lidar mal com a frustração e isso, volta e meia, não ajuda nada.

Passados todos estes anos, olho para o meu filho e vejo-me ao espelho e ainda estou a aprender como lidar com a situação. Não é fácil ter vivido e ter sofrido da forma que sofri e ver que o meu filho pode passar pelo mesmo. Como é que eu lhe posso explicar como lidar com a derrota se eu próprio não lido bem com ela?

Tenho feito o seguinte: vou perguntando aos meus Pais para contarem e recontarem as tais histórias onde eu fazia grandes birras quando perdia. Andava à procura de pontos em comum, algo que me permitisse perceber o que é que acendia o rastilho. Claro que o sentimento estava sempre lá, mas havia ali qualquer coisa que em vez de ajudar dificultava. Encontrei duas, mas há mais de certeza:

A primeira (já falei nela), facilitar para que a criança ganhe.

Claro que qualquer um vai querer jogar contra quem tem mais hipóteses de ganhar. Isto de facilitar não ajuda, pelo contrário, só evita que haja melhorias. Como Pais devemos continuar a fomentar a competitividade sem que, de forma declarada, ajudemos a nossa criança a ganhar. Vamos fomentar para que o nosso filho, quando perde, seja melhor na vez seguinte. Explicar-lhe as técnicas, as estratégias, os truques para que ele possa melhorar. Se os Avós deixam o neto ganhar, temos de ter uma conversinha com eles e explicar que não estão a ajudar. A frustração tem de ser vivida, não dá para explicar. Proteger as crianças não ajudar, na maioria das situações.

A segunda, provocar quem sofre deste “problema”.


É normal que as crianças se apercebam dos pontos fracos dos colegas e são muitas vezes cruéis ao utilizá-los com alguma frequência. O "não saber perder" é dos pontos mais fáceis de ser detetado e por isso dos mais aproveitados para provocar ainda mais a ira de quem sofre com isso. Como é que se ensina auto-controlo a uma criança? Cientificamente não sei explicar, mas o melhor é ajudar a relativizar, a olhar pela desportiva e dizer "Ok, perdeste, mas foi divertido" ou "Quem ganhou foi melhor, vamos tentar melhorar para a próxima". Falar é fácil, certo? Eu sei, mas ficar a olhar sem nada fazer é que não.

Este é um dos casos mais difíceis como Pai, quando sabemos que o nosso filho herdou um dos nossos pontos fracos e temos na mesma de o ajudar a ultrapassá-lo da melhor maneira.Voltando ao Monopólio. Acaba por ser um jogo em que há muitas reviravoltas. Ora estamos ricos, ora estamos quase falidos. Isto tem permitido, sem que o jogo acabe, treinar a insistência, o não desistir à primeira e se porventura acabar em derrota, haverá sempre uma lição a retirar.

O Pai