Pai, aquele incêndio não aconteceu, pois não?
É impossível ficar indiferente ao que se passou em Portugal, neste fim de semana. Adormeci no sábado a saber que 19 pessoas tinham perdido a vida, o que já era uma tragédia enorme, acordei perplexo ao saber que tinham sido mais de 60!
Todos temos de estar conscientes que a cobertura mediática faz parte de um acontecimento como este. São centenas de profissionais que asseguram que a notícia passa, que não fica esquecida. Apenas imaginar o que se passou ali é cruel e demasiado duro até para o Homem mais forte, associar a imagem, o relato, o testemunho vivo é espetar a faca ainda mais fundo no coração.
Prova viva disto que estou a escrever é o testemunho do Pai que salvou parte da família, mas que perdeu os seus maiores tesouros, as duas filhas e a esposa. Para mim, bastava a descrição em nota de rodapé para sentir-me de peito apertado, mas não chegou. O Pai deu o seu testemunho, descreveu aquilo que ficará para sempre gravado na sua memória. Demasiado cruel, digo eu. Percebi na entrevista para a SIC que o Pai queria deixar uma nota de aviso para quem se deparasse com uma situação semelhante, mas na RTP pareceu-me demais.
À parte desta visão, necessária mas de preferência de bom senso do ponto de vista jornalístico, fica a forma como os nossos filhos olham para esta tragédia. O meu viu as notícias, tentamos apenas preservá-lo das imagens mais cruéis, mas era quase impossível. Para quem, como as nossas crianças, absorvem tudo, aquele cenário era demasiado real, demasiado perto.
Depois da enésima reportagem, perguntamos se queria que explicássemos alguma coisa. Respondeu que não, mas perguntou: "Pedrógão é perto de onde vivemos?”
Respondemos com a distância exata, com algo que o permitisse perceber que era distante mas muito mais perto de outros acontecimentos trágicos que temos assistido pelo Mundo fora. Aqui, as pessoas falam a nossa língua e sim, nós já tínhamos passado naquela estrada…
Era real, não vale a pena escondê-lo. Tão real como as centenas de heróis que combatem um vilão tão forte. O Super-homem vem do espaço, o Batman tem super-poderes, mas os bombeiros lutam de coração, com a maior força que existe.
Falemos em onda solidária, claro que sim. “Pai, como vamos ajudar?”, da forma como podemos, como tantos portugueses o fazem.
Foi um acontecimento terrível que dificilmente será esquecido, que deve alertar todos para pensarmos uns nos outros.
O Pai