Uma pergunta que me faço várias vezes é “Como é que um homem aprende a ser Pai?”. Há tantas variáveis nesta equação que poderia ter uma história por cada uma delas. Já escrevi e disse várias vezes que a minha grande referência como Pai é o meu. A sua forma de estar na vida e como encara a sua relação com os filhos marcou-me e ainda hoje me inspira. Não é à toa que lhe disse várias vezes antes de ser Pai: “Pai, quando for Pai quero ser como tu”.
Mas hoje a história centra-se noutra referência. A poucas semanas de ser Pai novamente, a minha cabeça e a de todos lá em casa, está focada naquilo em que se tornará o nosso Mundo depois da nossa princesa nascer. Já há mudanças, como é óbvio, mas quando a tivermos nos braços tudo será diferente.
Outra grande referência para mim como Pai é… o meu filho. Com ele aprendi tanto ao longo dos últimos 8 anos. Todas as fases foram apaixonantes, umas bem exigentes do ponto de vista físico e mental e outras que pura e simplesmente nos enchiam o coração.
Todos sabemos que os filhos se moldam à imagem dos Pais, para o bem e para o mal, mas as crianças criam o seu próprio espaço e personalidade. É neste aspeto que eu mais admiro o meu filho.
O meu filho ensina-me a ser mais justo e compreensivo.
A forma como ele lida com os amigos, como se faz ouvir e como expressa a sua opinião. A forma como ajuda o amigo nas aulas, na fila para o almoço ou até durante os jogos de futebol, fazem-me ficar a olhar para ele com grande admiração. Claro que tem os seus defeitos e ainda bem. A perfeição não existe e aquilo que lhe passo é que temos de aprender a viver com as nossas características, as boas e as más.
O meu filho ensina-me a amar de uma forma mais intensa.
Não há dúvidas que o amor de Pai e de Mãe é muito absorvente. Envolve-nos numa paixão tão intensa que nem sabemos bem, muitas vezes, como lidar com isso. O meu filho trouxe-me essa paixão. Um sentimento diferente daquele que temos pela nossa cara metade, pela nossa família ou pelos nossos amigos. Aquele amor que dá vontade de estar sempre ali, mas sem abafar.
O meu filho ensina-me a olhar o Mundo de forma diferente.
O Mundo que nos rodeia é um espaço estranho, cheio de curvas e obstáculos. Há a tentação de o tentar moldar, quase de o esconder dos nossos filhos para que eles só se apercebam mais tarde, quando tiverem mais maturidade para analisar. Na maioria das situações sim, estou de acordo, mas há coisas que as crianças devem perceber desde cedo, sobretudo sobre relação com as outras pessoas. O que o meu filho me ensinou foi a encarar esta relação com mais compreensão, mais benefício da dúvida. A sua ingenuidade ajuda a perceber que já percorremos esse caminho e isso ajuda a proteger-nos.
O meu filho ensina-me a ser um bom Pai.
Naquelas alturas em que precisamos de nos focar, de encontrar de novo o Norte e de percebermos o que nos move, é nessas alturas que eu olho para ele e digo “Eu sei bem o que quero na vida”. O trabalho diário, as preocupações, os atritos, enfim aquilo que nos preenche o dia mas que ao fim e ao cabo é apenas o cenário da nossa vida e não a vida propriamente dita. Demasiada filosofia? Talvez, mas para mim o centro do Mundo é sem dúvida a família e quando o meu olhar se desvia, o meu filho está lá para me puxar novamente para o mais importante.
Há quem diga que os filhos nos ajudam a relativizar, a colocar a importância certa nas coisas e encontrarmos o tal foco, o tal sentido da vida. Acaba por ser uma responsabilidade grande para seres tão novos e inocentes, mas é assim que o ser humano se renova e só quem não é muito inteligente é que não consegue tirar partido de ser Pai. Eu nunca tive uma ideia que pudesse mudar o Mundo, mas ser Pai dá-me a possibilidade de contribuir para um Mundo melhor, porque estou a influenciar e ao mesmo tempo aprender com alguém que vai ter as suas ideias e quem sabe uma delas até possa mesmo mudar o espaço em que vivemos.
O Pai